domingo, 29 de março de 2015

A nossa opressão arrisca-se a ser improvisada mal e porcamente

Não escrevo há bastante tempo, sinal que estou ocupado, há sempre algo para fazer, primeiro há os jogos de tabuleiro como passatempo, depois a música, depois a dança, há sempre algo que vemos e dizemos "porque não?".

E no entanto continuo solteiro e sozinho, parece um paradoxo, o homem solitário é aquele que tem a agenda mais preenchida, ou talvez não, afinal é difícil justificar ficar em casa no Sábado à noite quando somos nós e uma pequena tartaruga, mas estas ideias podem ficar para outro dia.

Temos um preso célebre a encher as noticias de vez em quando, José Sócrates, provavelmente corrupto, com um ego do tamanho da Austrália, e agora pelos vistos, com hinos de apoio.

Eu até estou aberto à possibilidade de ele ser inocente (mas acho que é muito remota), e se alguém o quer tentar animar lá na prisão, então que o façam, mas há duas coisas naqueles hinos que assustam.

Primeiro, a ideia de fazer hinos a um político e dizer-lhe "obrigado pela vida" é francamente má, ele é um político, bolas, um funcionário pago por nós para tratar de assuntos do estado enquanto dura o seu mandato, não tenho motivo nenhum para lhe agradecer a vida nem o quero "sempre presente", os líderes que estão "para sempre" costumam ser assim porque quem desgosta deles não vive muito tempo, não obrigado.

Segundo, aquilo é da pior música que já ouvi, a letra e a cantoria trabalham em conjunto para criar algo que era capaz de fazer uma barata surda subir pelas paredes de terror.

Já que vão dar o passo de querer um "querido líder" para sempre, não podem ao menos fazer a coisa decentemente e com alguma solenidade para a ocasião? Por exemplo...


Se querem submeter-se, podem ao menos fazê-lo com uns restos de estilo e dignidade, não?

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Não fazemos a diferença mas isso não é muito relevante

Tudo começou com um vídeo de um chinês a fazer uma flor de algodão doce...

Foi uma descoberta por acaso, mas um vídeo leva a outro e foram passando flores de algodão doce, artistas de açúcar, acrobatas dos gelados e etc.

E isto leva-nos a uma ideia muito importante, não precisamos de fazer a diferença.

Explicando melhor, o que estas pessoas fazem não muda o mundo em nada de importante, política, economia, sociedade, amanhã tudo continua a funcionar como dantes quer eles estejam a trabalhar ou não.

É assim que as coisas funcionam, só algumas pessoas são importantes ao ponto de influenciarem as coisas, pessoas com dinheiro, poder ou um talento muito especial, o resto pode viver ou morrer sem mudar nada. Daqui a uns anos ninguém se vai lembrar se fomos pessoas boas ou más, o que fizemos ou se deixámos algo para trás, simplesmente não somos necessários para as coisas funcionarem. Eu posso ser atropelado por um camião amanhã e isso não iria ter a mínima importância.

E no entanto...

Estas pessoas fizeram-me sorrir um pouco, fizeram as pessoas à volta delas sorrir, a felicidade não depende da importância, não mudamos o mundo mas podemos fazer com que nós e mais alguns outros "desnecessários" o vejam um pouco mais colorido.

E ainda bem.

E quero um destes, de todos, muitos de cada um se possível...

 







quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A verdadeira natureza das tradicões natalicias

Mais um natal à porta, todos os sinais estão no ar, o sistema de som do Colombo começou a debitar as músicas gravadas a metro, o "trânsito" dentro da Fnac vai ficando cada vez mais caótico, as ruas iluminam-se, os concertos e os espectáculos natalícios estão um pouco por todo o lado...

E por aqui está praticamente tudo no lugar, há a árvore de natal anã e o presépio improvisado a partir das decorações natalícias tiradas do fundo do armário, a meia dúzia de embrulhos para entregar depois num canto da sala, algo de comestível e especial no armário da cozinha, no fim de contas o natal tem este aspecto...



E vendo o que escrevi no ano passado por esta altura, não está muito diferente. Pensando um pouco mais, tudo isto está a seguir o ritmo dos outros anos.

Bem, há sempre algumas novidades, mais uma estrela, um toque diferente na árvore, um sabor diferente para o almoço com o resto dos Vicentes, mas há sensação de um ciclo, de algo que vem todos os anos no ar.

Acho que estou a ver tradições de natal a crescer.

Os puristas podem dizer que uma tradição verdadeira tem de ser algo sério e feito por um comboio de gerações, algo para se poder empinar o nariz e lamentar as "modas" ou a "comercialização", mas pensando nisso, creio que não.

No fundo, uma tradição natalícia é algo pessoal, é o que nós escolhemos fazer agora, pode ser celebrar como as noites vão passar de cada vez mais longas a cada vez mais curtas, pode ser a reunião dos parentes vindos dos confins do mundo, pode ser o ataque consumista, pode ser dizer que não se acredita no natal e simplesmente preguiçar na cama.

Ou tudo isso junto, ou só algumas coisas, ou nenhuma.

O natal é o que quisermos fazer, e pendurar a estrela de papel ou caminhar pela rua e cheirar o fresco límpido da noite antes de fugir para uma cama quente são tradições tão válidas e veneráveis quanto a missa do galo.

domingo, 30 de novembro de 2014

Não, não somos especialmente defeituosos

Passar os olhos pelas estantes da livraria é um pouco como uma lotaria, às vezes aprendemos algo de novo, a próxima capa pode ser um estudo dos planos de Napoleão para invadir o Reino Unido (nunca realizados, obviamente) e o seu efeito na opinião popular e na política da época.

Por outro lado, às vezes a próxima pode ser uma bela treta, como o livro que encontrei neste fim de semana, idiota e talvez até um pouco perigoso.

Promete mostrar "O Que é Que os Portugueses Têm na Cabeça?", e isso já deve começar por tocar alguns sinais de alarme na nossa, os países são criaturas complexas criaturas, dentro de um deles podem habitar várias culturas e gerações cheias de nuances e diferenças.

Colar uma "identidade" a um povo é tentador porque é simples, aponta-se os holofotes para os pontos que queremos realçar, varre-se os que não convêm para debaixo do tapete e tem-se um retrato estereotipado, bom para aquecer o ego e justificar escolhas.

Neste livro o estereotipo é o do Português mauzinho, inveja, corrupção, mania das grandezas, corrupção, falta de pontualidade, etc.

Bom, algumas destas coisas são evidentemente idiotas, como se mede a "inveja" de um país por exemplo? Posso procurar anedotas e ditados populares, talvez até fazer circular um questionário bonitinho, mas no fim tudo como diabos vou medir isto? Em Kiloinveja por capita? E como definir "inveja"? Qualquer pessoa pode descrever uma emoção, mas transformar isso em algo que se pode medir e comparar é no mínimo suspeito.

Mas essa tentativa de medir o vago e o emocional até pode ser útil, porque pode levar a pessoa a olhar para além do seu próprio país e descobrir algo que a vai esclarecer. Isto partindo do principio que não olha já de vez em quando, o que não é dificil, mas como esta porcaria foi escrita algumas pessoas devem não o fazer.

Olhando para fora descobrimos algo, há sempre alguém que se queixa em todos os países e queixam-se da mesma coisa, políticos corruptos, mania da grandezas, desperdício, etc. Há pouco tempo houve um escândalo de corrupção no Luxemburgo, muitos Britânicos não suportam o Cameron, os Americanos estão a ficar exasperados com a máquina política de Washington.

Tudo isto porque no fundo as pessoas são mais ou menos iguais em todo o lado, uma pessoa não é corrupta por causa do ar que respira ou do leite da mãe, mas porque tem tentações e oportunidade para isso. Um país pode dar mais ou menos oportunidade para isso, é verdade, mas isso depende de muitas coisas diferentes, as instituições e as culturas que funcionam bem chegam a esse ponto com história e circunstancias favoráveis.

Então, todos países têm estes problemas "Portugueses", mais controlados e vigiados em alguns, ou então compensados com riqueza e poder, mas eles estão lá.

Isto não devia ser uma surpresa para ninguém, as crises financeiras e os problemas do Euro deviam ter mostrado que não há países "mágicos", a Alemanha teve um "soluço" na economia há pouco tempo, o crescimento económico pela Europa em geral está doente.

E é por isso que a ideia deste livro para além de idiota é perigosa, é conveniente dizer que os nossos problemas são só de cá e que se arranjam com mais ou menos austeridade, o famoso "viver acima das possibilidades".

Não, os problemas que temos agora são uma criatura muito complicada que vai daqui até Berlim, naturalmente, visto que os pedaços da Europa e do mundo não vivem separados uns dos outros.O próprio Euro há de precisar da alguns arranjos ou pancadas para continuar a funcionar, é preciso admitir isso ou nunca nos livramos da crise.

E isso vale para todas as questões económicas, e é a razão pela qual a economia  de um país não funciona como o orçamento de uma dona de casa, outra ideia idiota e perigosa, mas isso pode ficar para escrever noutra altura.

E chega de escrever por agora, não o fazia tanto há tempos.

E tudo por causa daquele livro imbecil.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A inevitabilidade e a importância dos gestos de loucura

A vida é uma coisa engraçada...

Bem, para dizer a verdade, boa parte dela não é, a maioria das pessoas vai acabar por ter um emprego de alguma espécie e passar muitos dias sem nada mais excitante do que pensar se vai estar a chover quando saírem dele.

É certo que isso faz a economia e etc, que somos suposto ser certinhos e ter uma vida normal, apoiar um clube de futebol, vestir conforme a moda, usar a casa dos segredos como tema de conversa, mas depois de algum tempo isso tudo simplesmente não é o suficiente.

Dizem que para fazer amigos e conquistar alguém especial temos de ser "nós próprios", bem, isso é fácil, o diabo é conseguir que o mundo aceite as partes do "nós próprios" que não se encaixam na imagem da pessoa "normal".

Talvez um dia arranjem maneira de clonar a população e então sim, vamos ter todos a nossa altura média, mastigar o nosso mcdonalds (o menu mais popular, obviamente) à mesma hora, sair do emprego para ver o mesmo programa de televisão idiota e ser um exército de "médios".

Mas até lá, sendo cada pessoa única e um pouco louca à sua maneira, vamos ter de fazer loucuras gloriosas de vez em quando, como estas!





http://www.visualnews.com/2014/10/08/doesnt-get-cooler-motorcycle-chariots/

Pensamento do dia, se algo for fisicamente possível, vai ser feito por alguém, algures, independentemente de se o mundo achar ridículo, inútil ou perigoso, ou as três coisas ao mesmo tempo.

E é um pouco por isso que o dinossauro vai dançar neste Sábado, provavelmente sem parceira, mas vai ser, nem que tenha de esticar o raio dos braços no ar e fingir que estou com a mulher invisível.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Dias cinzentos

Ok, não é exactamente um segredo e infiltrou-se um bocadinho no último post, por isso é melhor deitar cá para fora, os tempos felizes acabaram-se, estou outra vez sozinho e a entrar num outono  cinzento com um coração partido.

Talvez haja ainda alguma esperança, ou talvez não, se pudesse escolher voltava a tê-la, a qualquer custo.

Porque pode parecer piegas, mas a verdade é que a diferença entre estar sozinho e ter alguém é bem real, especialmente na forma de ver o mundo, passei por anos e solidão e por alguns momentos de felicidade, vi as duas coisas em primeira mão e por dentro.

A diferença não está em se perder uma coisa em particular, divertimento, conversa, ou mesmo sexo, tudo isso pode ser eventualmente conseguido ou até comprado se a falta apertar o suficiente, não, o que perdemos é o optimismo, a ideia de que o que fazemos faz parte de um futuro, de que estamos a construir algo.

Todas as coisas que aconteciam antes podem voltar a acontecer, mas agora funcionam sozinhas, é como a diferença entre uma orquestra e um monte de instrumentos soltos, até podem ser bonitos às vezes mas não chegam perto do que era a coisa verdadeira.

As coisas felizes vão-se tornando menos e os problemas piores, quando algo de bom acontece começamos a pensar se será realmente assim tão bom em vez de como nos ajuda, quando é algo de mau ganha mais força e pensamos mais em como pode trazer mais problemas em vez de como a próxima vez será melhor. Falta isso, a ideia de que o futuro vai trazer oportunidades e novos horizontes em vez de problemas. Quando olhamos para algo vemos porque pode ser mau em vez de porque pode ser bom.

E assim as coisas vão sendo cada vez um bocadinho mais cinzentas, os momentos de felicidade são mais curtos, as tristezas mais profundas, a nossa mente vai sendo um bocadinho mais cínica, até...

Até quando? Até todas as coisas boas trazerem um travo amargo logo a seguir? Até sentirmos todos os pormenores de todos os problemas de cada dia a pesar em cima de nós por mais pequenos que sejam?

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Deliciosas loucuras retro-electrónicas em glorioso vermelho

Os tempos escuros são cada vez mais escuros, vou me divertindo e entretendo mas tenho um pouco a sensação de estar numa festa em Pompeia com o Vesúvio a arrotar lá fora...

Bom, então vamos nos rir de uma coisinha curiosa enquanto o Vesúvio não acorda a sério.

Encontrei esta ideia de 1949 ontem e não consigo decidir se é ridículo, um design de génio, ou as duas coisas.




Suspeito que, mesmo com os componentes electrónicos primitivos da época, não era preciso fazer algo tão rebuscado para ouvir rádio na rua, nem de perto, nem de longe, a cor, a forma, aquela antena grande, tudo parece estar lá "porque sim", porque fazer isto parecia uma ideia louca demais para não a experimentar.

E no entanto, pode ser louco ou ridículo, podemos nos rir dele, mas digam lá se o nosso leitor de mp3 comum não parece simplesmente aborrecido e sem sal ao pé disto?

http://magictransistor.tumblr.com/post/98322187756/victor-hoeflich-man-from-mars-radio-hat